Aos da Igreja de Laodicéia
Juan Demolinari Ferreira
Certo homem nos Estados Unidos, ao voltar para casa numa noite fria foi rendido por um cidadão que logo gritou: “Isso é um assalto! Passe sua carteira!”. Temendo qualquer agressão, o homem logo tirou sua carteira do bolso e a entregou ao assaltante que saiu andando. A vítima, ainda um pouco atordoada percebeu que o ladrão estava sem casaco e a noite estava realmente fria, quase nevando. Então, subitamente ele gritou: “Ei! Está muito frio! Leve também meu casaco!”.
Em uma cidade no Brasil, uma mulher possuía um apartamento bem valorizado em uma rua tranquila e relativamente conceituada. Porém, ela não imaginava que o combate ao tráfico de drogas em outra rua famosa também pela prostituição, faria com que prostitutas e travestis migrassem para “trabalhar” exatamente no quarteirão de sua linda moradia. Obviamente o preço de seu imóvel despencou. Rotineiramente, policiais e ambulâncias começaram a aparecer no local para conter inúmeros desentendimentos e atender queixas de vítimas de agressão. Ao observar atentamente a dinâmica da prostituição, a dona do apartamento percebeu que as prostitutas e os travestis passavam a noite toda se prostituindo sem sequer um intervalo. Ela então decidiu acordar em certa hora da madrugada para levar alimento a esses flagelados que tanto a prejudicavam.
Histórias como essas são raras nos dias atuais e certamente geram em nós sentimentos de estranheza, desconfiança e uma vontade louca de encontrarmos uma justificativa para não fazermos o mesmo.
Por que será que é tão estranho para nós que alguém possa amar um ladrão? No caso, seu próprio ladrão? Por que é tão estranho para nós ter compaixão por uma prostituta, um travesti? Pergunto por que, já que você que está lendo esta postagem certamente conhece alguém que faria o mesmo! Alguém nascido há 2013 anos que não só amou essas pessoas como também deu sua vida por eles! Alguém que nos prometeu que em seu nome faríamos coisas ainda maiores! Mas quando Ele disse isso, nós conseguimos apenas nos imaginar curando leprosos, fazendo pessoas flutuarem, ressuscitando mortos, transferindo o monte Everest para a América do Sul e outros milagres ainda mais estonteantes, mas nunca imaginamos que “realizar obras ainda maiores que as de Jesus, no nome Dele” é dar um casaco a um ladrão, é dar alimento a prostitutas, abraçar amorosamente um travesti, acolher um órfão! Não estou duvidando que no nome de Jesus (entenda-se debaixo da vontade Dele) não possamos realizar os milagres supracitados, mas gostaria de entender por que não estendemos o conceito de obras maiores…
Talvez nosso problema seja que nós cristãos do século XXI somos dotados de um enorme senso de direito: “Você me deve isso! Cadê o meu bom dia? Cadê meu troco? Incompetente, minha comida está fria! O que há de errado com você? Isso não é problema meu!”. Por cumprirmos nossos deveres civis, exigimos do mundo o cumprimento de nossos direitos e não mostramos um Cristo misericordioso a eles! Penso que devemos ser sim os primeiros a dar um bom dia, a demonstrar honestidade, carinho, amor, competência… Mas isso não passa de nossa obrigação, devemos exceder! Devemos levar o mundo a ser assim também através de Jesus Cristo. Quando pensamos assim, nosso senso de direito cai por terra e o que sobra é uma imensa humildade e a sensação compartilhada por Paulo de que somos devedores de todos, tanto gregos como judeus, já que como vasos de barro carregamos em nós um tesouro reservado a eles, cabe a nós mostrá-lo! Devemos fazer o máximo para isso! Mas será que fazemos o máximo? Via de regra o que temos traçado é uma moralidade mínima! “Até que ponto eu posso me envolver com coisas mundanas sem ser chamado de ímpio?”. Nossa maior preocupação é quanto a perdermos nossa salvação (se é que salvação se perde, ou o fato é que nunca foi ganha). Vivo ouvindo pessoas perguntando: “Isso é pecado? Isso pode? Ir a esse lugar é legal? Que tanto eu devo beber sem cometer pecado? O que eu posso comer?” Pessoas sedentas para que tracemos a linha do mínimo! Poucas vezes vemos cristãos preocupados com o máximo que podem fazer por Jesus… poucas vezes vemos pessoas preocupadas em recuperar os anos perdidos como velha criatura. Parece sim que a maioria está preocupada em ser chamada de nova criatura apesar de desejar manter os hábitos de velha criatura.
Concluindo, quero dizer que precisamos, assim como a igreja de Laodicéia, nos arrepender, ouvir a batida na porta e abri-la, sair do nosso estado morno antes que Jesus nos vomite. E ao vencedor o Senhor dará o direito de sentar-se com Ele no trono! Que assim como a igreja de Éfeso possamos reencontrar o caminho do primeiro amor, pois é somente esse amor que nos faz dar nosso casaco, alimentar os famintos, perder o senso de direito e buscar a linha do máximo!
Que Deus nos abençoe com suas misericórdias hoje e sempre. Amém.